Entre vazios e silêncios: enigma e mistério na Pintura Metafísica de Giorgio de Chirico e na música silenciosa


            Existe uma significativa proximidade entre a Pintura Metafísica de Giorgio de Chirico e algumas músicas do repertório contemporâneo da música culta ocidental que usam o silêncio como recurso expressivo.
            Este texto propõe-se a lançar um olhar sobre os elementos que caracterizam essa semelhança, primeiro trazendo uma rápida abordagem sobre o que foi a fase metafísica da obra de De Chirico e, posteriormente, fazendo um breve levantamento de algumas obras musicais que trabalham com o silêncio para, finalmente, esboçar os elementos que nos parecem aproximar essas diferentes práticas artísticas.


Giorgio de Chirico e a Pintura Metafísica


            Giorgio de Chirico (1888-1978) nasceu na Grécia, filho de pais turcos, porém com fortes ligações com a Itália. Após estudar em Atenas e Munique, mora em Milão nos anos 1909 e 1910.
            Naquela cidade, influenciado pelas idéias de Schopenhauer e, principalmente, de Nietzsche, desenvolve um pensamento e cria as primeiras obras da que posteriormente viria a ser chamada de Pintura Metafísica.
            Com Nietzsche que ele compartilha seu gosto pela mitologia clássica e pelo enigma. O filósofo alemão havia declarado a “morte de Deus”, ou seja, as experiências e os fenômenos da vida tem que ser explicados aqui em nosso mundo, não existe uma verdade única e última.
            É dessa premissa que vai sair a inspiração para os fundamentos da Pintura Metafísica. A beleza, os mistérios da vida estão aqui entre nós, espalhados pelo mundo. Como diz Magdalena Holzhey, a “Pittura Metafisica procurava a qualidade enigmática dos fenômenos terrestres, não em alguma outra dimensão mas no interior das coisas deste mundo.”
            Numa viagem para Roma e Florença o pintor fica marcado pela arquitetura da primeira e suas possibilidades expressivas. Em Florença ele tem um insight (revelação, conforme ele descreve) que o leva a criar aquela que seria a primeira obra da Pintura Metafísica, Enigma de uma Tarde de Outono, de 1910.

Enigma de uma tarde de outono, 1910
fonte: Fondazione Giorgio e Isa de Chirico

            A partir desta obra vão aparecer alguns dos elementos que serão a marca da Pintura Metafísica: praças vazias, profundidades recuadas, pequenez das figuras humanas, sombras que parecem ter vida própria, prédios de tamanhos monumentais e inverossímeis, perspectivas múltiplas (vários pontos de fuga), elementos quase oníricos, estátuas, figuras mitológicas, manequins, elementos que remontam às suas memórias infantis, amplos espaços vazios.
            Elementos que remetem a uma espécie de sacralização do comum, uma exaltação do significado que está oculto nas coisas do mundo às quais a vida moderna, dominada pela racionalização, não nos permite parar e contemplar. É uma busca pela “singularidade misteriosa das coisas”, recorrendo novamente ao que diz Holzhey.


O enigma de um dia (I), 1914
fonte: Fondazione Giorgio e Isa de Chirico

            De Chirico é um pintor que cruza a borda do século XIX para o século XX. Como na música foram compositores como Claude Debussy, Arnold Schoenberg e Igor Stravinsky, artistas nascidos no século XIX, mas que edificaram obras que definitivamente traçaram caminhos que deixaram a tradição romântica para trás. As primeiras obras de De Chirico trazem ainda grande influência de autores do século anterior. Porém, ele vai transmutar esses elementos em uma linguagem verdadeiramente nova que romperá com o que veio antes dele e abrirá caminhos para o futuro.
            É interessante o paralelo que dá para estabelecer entre De Chirico e a música de sua época. Seus quadros do período entre 1912 e 1915 comumente apresentam pontos de fuga diferentes. Essa é uma época na qual compositores ligados ao universo francês (ao qual ele também se avizinha) trabalham com uma harmonia caracterizada pela politonalidade (uso de mais de um centro tonal simultaneamente, como referência de organização dos sons da obra). São elementos que, guardadas as diferenças de natureza entre pintura e música, poderiam ser relacionados entre si como referência de construção das obras. Entre os compositores que trabalharam com essa técnica estavam Darius Milhaud, Maurice Ravel e Igor Stravinsky, entre outros.
            Outra semelhança interessante pode ser traçada entre este pintor e o compositor Igor Stravinsky, referido. Após a criação de obras seminais para a música – não só do século XX, mas de toda a história da música do ocidente –, como Petrushka e a Sagração da Primavera, no início da década de 1910, o compositor russo na virada para a década de 1920 se voltou para um estilo neoclássico (ou “neobarroco”), imitando velhas formas e deixando para trás as invenções revolucionárias com que tinha balançado o mundo da música. Stravinsky passará mais de trinta anos compondo dessa maneira, vindo a fazer mais uma viravolta já na velhice, quando adota o serialismo inspirado em Webern, nos anos de 1950.
            Giorgio de Chirico em 1919 também surpreende a todos e se volta para um neoclassicismo, deixando para trás cada vez mais a Pintura Metafísica que, mesmo após sua guinada, ainda continuará a influenciar outros pintores, como os surrealistas. O pintor, de forma semelhante ao compositor, também fará uma espécie de “guinada progressista” em sua obra na velhice. O que os difere é que Stravinsky adere a uma tendência da época enquanto que De Chirico retoma temas com os quais ele mesmo havia trabalhado décadas antes, sendo essa sua fase comumente caracterizada como “neometafísica”. Mas, como este não é o foco deste texto, não nos alongaremos mais neste assunto.
            Outra influência para De Chirico viria de Giacomo Leopardi, um dos maiores poetas italianos do século XIX, por meio de seu conceito de “infinito indefinido”, o qual remete à noção de que o que está escondido e somente sugerido tem maior propriedade poética e é mais impressionante do que o que é escancaradamente revelado.
            De Chirico encontra inspiração em sua passagem por Turim e seus quadros do período de 1912 a 1915 são movidos por essa experiência. Neles vemos o reflexo da arquitetura da cidade.

A grande torre, 1913

            Em sua fase de Ferrara, De Chirico encontra-se com Carlo Carrà, em 1917. Carrà é comumente aludido como um dos pioneiros da Pintura Metafísica, idéia equivocada, pois como demonstra Holzhey, este pintor foi influenciado por De Chirico.

As musas inquietantes, 1918
fonte: Fondazione Giorgio e Isa de Chirico

            Em 1919 a obra de De Chirico muda de caminho e assumirá um perfil neoclássico, com algumas reminiscências metafísicas. Nas décadas seguintes o pintor ainda realizará outras notórias mudanças em seu trabalho, mas é só próximo ao final da vida que surgirão obras que apontarão novamente para algo que lembraria a fase metafísica.
            No entanto, no início dos anos de 1920, um grupo de jovens artistas, os quais viriam a constituir o movimento surrealista, descobre as obras metafísicas do pintor greco-italiano e passam a admirá-la com grande fervor. A Pintura Metafísica será, dessa maneira, uma grande impulsionadora do surrealismo.

“Os mundos de sonho de De Chirico – nos quais a razão e a lógica são postas de parte e aparentemente opostos incompatíveis ficam inesperadamente cara a cara – devem ter parecido indicar o caminho do futuro aos surrealistas para a sua própria poética, cujo objectivo era revelar e representar o inconsciente, o oculto, o enigmático, o irracional e a repressão.” (Holzhey, p. 67)

  Man Ray: foto dos surrealistas, 1924 (De Chirico junto).



O silêncio na música contemporânea

            O silêncio foi empregado em diversas obras na música culta dos séculos XX e XXI. Passando a ser entendido para além de uma simples pausa ou ausência de som, este elemento veio a desempenhar função expressiva e estrutural.
            Sua utilização mais aclamada se encontra na obra de John Cage, particularmente em sua composição intitulada 4’33”.

            Partindo da influência da cultura Zen, Cage buscava a realização de uma obra na qual ele “suspendesse” suas escolhas, em que a música não fosse “contaminada” pela personalidade do artista.
            4’33”, composta após a experiência do compositor numa câmara anecóica (sala projetada para não permitir a entrada de nenhum som externo em seu interior) – na qual ele afirmou ouvir um som “alto”, do sistema nervoso, e um som “baixo”, da circulação sanguínea –, traz uma interpretação na qual o performer não produz sons com o instrumento. Porém, ao invés do esperado “silêncio absoluto”, numa obra como essa o que passamos a ouvir são os sons do ambiente, ou seja, os ruídos que normalmente não são classificados como “música”, mas que estão sempre ali, na periferia da obra. Dessa maneira, 4’33” se insere como obra capital no universo da música ocidental por ampliar o espectro dos sons “possíveis” nessa arte.
            Essa era uma tendência que já vinha em expansão desde o início do século, principalmente com o movimento futurista italiano, que advogava a incorporação dos ruídos ao universo da música, tendo Luigi Russolo como figura proeminente (conforme o texto anterior deste blog já apresentou).

            A partir de 1945 as novas vanguardas musicais elevarão o ruído à qualidade de material artístico por excelência, o que ficará patente na obra de compositores como o próprio Cage e Edgar Varèse (que já sentira a influência de Russolo desde a década de 1920), entre outros, e nas nascentes música concreta, música eletrônica e logo em seguida na música eletroacústica, tendências que surgem no final dos anos de 1940 e no decorrer da década de 1950.
            Outro compositor que se destaca com o trabalho com o silêncio é Anton Webern. O rigor de sua aplicação da técnica serial schoenberguiana, a concisão de seus materiais musicais, seu contraponto cuidadoso, suas formas claras e simétricas, o aforismo de muitas de suas obras e a rarefação de sua textura, quando combinados com o silêncio criam um novo mundo de expressividade.
            O silêncio em Webern aparece diluído em meio à música, tomando parte na rarefação e na fragmentação de seu material.

Cinco peças para orquestra, op. 10

Variações para orquestra, op. 30

            O silêncio em Cage atua como um mote para uma idéia conceitual em relação à música, possibilitando que o compositor traga à tona a paisagem sonora que discretamente rodeia o ritual da música.
            Em Webern encontramos um silêncio de outra natureza, envolto em mistério, com grande poder expressivo.
            Mais recentemente, do decorrer da década de 1990 até os dias atuais, algumas cenas da música experimental pelo mundo (New London Silence, Berlin Reductionism, Onkyô e Wandelweiser, entre outras) têm recuperado o uso do silêncio em sua música.
            Trata-se de grupos não-acadêmicos, voltados para uma música improvisada em grande parte dos casos (ou numa mistura de elementos que cambiam entre composição e improvisação), sendo muitos desses músicos influenciados pela estética de John Cage.
            Um dos mais notórios entre esses grupos é o Wandelweiser, um coletivo internacional de compositores-intérpretes surgido em 1991, na Alemanha, e que se mantém até hoje com participantes de diferentes países.
            Uma diferença que pode ser constatada entre o uso do silêncio nessas cenas é que, ao contrário de Cage, muitos desses músicos procuram ter um ambiente “controlado”, não desejando que ruídos externos interfiram nos ruídos internos à suas músicas de “ruídos silenciosos”. Desta forma, eles procuram minimizar a ação do acaso, afastando os sons não intencionais. No caso dos músicos do Onkyô chegava-se a nem mesmo desejar-se interações entre os músicos, cada um improvisando independentemente dos demais.
            A música desses grupos trabalha com grandes silêncios ou às vezes com o que chamam de “ruídos silenciosos”, sons de amplitudes bastante pequenas, que chegam a confundir-se e realçar ruídos do ambiente, fazendo com que, semelhante à obra de Cage, passemos a ouvir esses ruídos limítrofes à música. É uma música que convida a ouvir o mundo através de seus ruídos comumente despercebidos.

Eva-Maria Houben – La solennité des silences

Raku Sugifatti - Appel

Antoine Beuger – Landscapes of absence

            Ao longo da década de 2000 fiz um uso extensivo do silêncio em minhas obras, chegando a escrever um ciclo de obras, denominado “Diálogos com o Silêncio”, no qual procurava estudar e experimentar abordagens variadas do uso desse elemento na música. A presença do silêncio em meu repertório se aproxima mais do uso weberniano, tratando o silêncio como um elemento que evoca o mistério e o enigma, diluindo-se em meio ao discurso, do que a maneira cageana de abordá-lo como elemento conceitual.

Perdido nos Labirintos do Inferno – 2º mov.


            Esta obra, composta entre os anos de 2001 e 2005, é escrita para piano solo. Sua temática extramusical é uma alusão metafórica a uma experiência psicológica de queda, resignação, tomada de consciência, recuperação e ascensão. Por isto a referência à “Divina Comédia” de Dante Alighieri. O segundo movimento, aqui apresentado, é minha primeira experiência com o silêncio em música. Inicialmente composto em 2003, foi revisto e ampliado em 2005, época em que já tinha adquirido uma experiência maior em trabalhar com esse elemento.

Diálogos com o Silêncio V


            Principal composição do ciclo “Diálogos com o Silêncio”, esta obra, escrita para um quarteto de clarinetes, amalgama o uso em vários níveis do silêncio com uma rica exploração de texturas, timbres, efeitos, microtonalidade, modalidade, uso de motivos, referencialidade a outras músicas e recorrência de idéias musicais que acabam resultando numa forma de bastante interesse musical.
            Nestas obras fica patente a utilização do silêncio como um recurso de expressão, numa busca de evocar, associativamente, por meio da música, elementos extramusicais aos quais pretende-se fazer alusão.


O vazio e o silêncio

            A arquitetura expressiva, a imensidão dos prédios e as sombras que projetam, as figuras humanas que, quando há, são quase insignificantes, esmagadoramente pequenas diante das construções e dos vazios que as rodeiam, minúsculas, distantes, sem poder. Na Pintura Metafísica de De Chirico – especialmente na fase inicial, antes do período de Ferrara – prevalece a solidão, o mistério e o enigma por trás das coisas.
            O vazio dos espaços, como nas praças italianas e mesmo dentro das imensas e inóspitas construções, fazem elo com o que evoca o silêncio em muitas das obras do repertório da música erudita dos séculos XX e XXI que o englobam como elemento estruturante. A abertura para ouvir os sons do mundo e, consequentemente, também ouvir a si mesmo é um encontro com o vazio que a experiência do silêncio remete.

Mistério e Melancolia de uma Rua, 1914

            Uma obra de arte é como um espelho. Ela nos coloca diante de nós mesmos. O que vemos nela é o que somos. Não há interpretação ou apreciação correta ou incorreta, contemplamos a obra através da experiência que temos, quanto maior e mais variada for essa experiência, maior número de elementos teremos para dialogar com ela e mais intensa a fruição que essa obra nos proporcionará.
            A Pintura Metafísica, ao nos remeter ao mistério das coisas em si, faz com que esse encontro seja ainda mais impactante, tamanho o impulso com o qual ela nos remete ao que há de mais profundo em nós mesmos. O silêncio na música, tendo um imenso potencial de nos remeter ao mistério, também nos coloca diante de conteúdos semelhantes, como podemos ouvir na música de Webern e em outras com influência semelhante, com suas rarefações nos materiais musicais e no jogo de tensão e relaxamento que a ausência ou existência de som podem evocar.
            A obra de De Chirico destaca as coisas de seus contextos (os quais lhes incutam sentidos e significados), “deixando-as a sós” na integridade de suas próprias existências, permitindo assim que nos encontremos com sua natureza enigmática. Sua Pintura Metafísica empreende uma busca pela “alma secreta das coisas”.
            O silêncio também opera uma espécie de ressacralização em relação aos sons do cotidiano. Contrapondo-se à tradicional ritualização do concerto musical, que discrimina uma pequena gama de sons como “musicais”, ele nos faz perceber os sons do ambiente (que para muitos podem ter passado despercebidos por toda a vida), trazendo-os para dentro do espetáculo da música. Desta forma, ele também abre caminho para que se encontre essa “alma secreta das coisas” do mundo, seus sons, como eles são realmente, em si, e não como os interpretamos contextualmente.
            A pintura de De Chirico e o uso do silêncio evocam o enigma que há nas coisas do mundo, frequentemente desfavorecidas pela falta de atenção do olhar (e do ouvido) corriqueiro.
            Esse elemento enigmático também envolve o silêncio. Em muitas obras ele pode aparecer como imenso, onipresente, devastador, aniquilador...enfim, misterioso.
            Como diz Holzhey, a Pintura Metafísica de De Chirico é obra de um “artista-filósofo que medita sobre os mistérios do mundo e sobre sua própria existência”, (p.88). O “vazio e a ambiguidade das suas imagens suscitam associações no íntimo do espectador” (p.61). São obras enigmáticas, empregam simbolismos, não são totalmente decifráveis. Assim como o silêncio em algumas músicas que, carregado de mistério, abre-se para diversas interpretações, mas não sendo redutível a nenhuma delas.
            Ambos evocam a “qualidade enigmática dos fenômenos”.




REFERÊNCIAS

De Chirico
Magdalena Holzhey
TASCHEN

A viagem do argonauta. As poéticas de Georgio de Chirico no acervo do MAC-USP
Mariana Karina Ribeiro
Dissertação de mestrado - UNICAMP

Fondazione Giorgio e Isa de Chirico
http://www.fondazionedechirico.org/opere/pittura-2/1910-20/?lang=it/

A música moderna
Paul Griffiths
ZAHAR

O silêncio como afeto ou a escuta corporal na recente música experimental
Carlos Arthur Avezum Pereira
Tese de doutorado – USP

The composers of quiet – The Wandelweiser collective makes music between sound and silence
Alex Ross
http://www.newyorker.com/magazine/2016/09/05/silence-overtakes-sound-for-the-wandelweiser-collective

Dicionário Grove de Música – edição concisa
editado por Stanley Sadie
ZAHAR

Enciclopédia Itaú de Arte e Cultura Brasileiras
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3187/arte-conceitual



PERSONAGENS


Giacomo Leopardi

            poeta, filósofo, filólogo e ensaísta italiano (1798-1837). Leopardi é visto como um radical pensador do século XIX. Sua poesia, fortemente lírica, é um marco do romantismo, fortemente impregnada de ceticismo, melancolia e pessimismo.


John Cage

            compositor e artista multimídia estadunidense (1912-1992), notório por seu espírito experimentador. Sua produção inclui trabalhos com piano preparado, instrumentos eletrônicos, música eletroacústica e instrumentos não-ortodoxos. Tendo se familiarizado com a filosofia Zen, passou a pesquisar meios de se realizar uma música na qual a intencionalidade humana não atuasse, o que o levou à música aleatória, na qual elementos de indeterminação conduzem a criação de música. Music of Changes (composta com o auxílio do I Ching), Imaginary Landscapes IV (para 12 rádios sintonizados em diferentes frequências) e 4’33” são fruto desse pensamento. Cage popularizou seu nome por meio de seus vários livros, conferências, happenings e apresentações musicais e também pela maior facilidade de penetração de seu trabalho que abarca o campo de várias artes.


Edgar Varèse

            compositor de nascimento francês (1883-1965), mas que passou a maior parte de seu período produtivo nos EUA. Desde suas primeiras obras já aponta para novos caminhos na música, trabalhando com enfoque em novos timbres e com formas que rompem definitivamente com a tradição que outros inovadores mais aclamados em seu tempo ainda tinham dificuldade em deixar para trás. Ionisation é um marco na música ocidental como a primeira obra escrita apenas para instrumentos de percussão. É um dos precursores da música eletroacústica.


Música concreta

            primeira vertente de compositores, originada no final dos anos de 1940, em Paris, que faziam experiências com música gravada em meios eletrônicos, a partir de sons naturais ou “concretos”, fixando-os na recém-criada fita magnética. Os dois principais membros desse grupo foram Pierre Schaeffer e Pierre Henry.


Música eletrônica

            vertente alemã, criada por Werner Meyer Eppler e Herbert Eimert no início dos anos de 1950, que trabalhava com  a criação de sons puramente eletrônicos por meio de equipamentos experimentais.


Música Eletroacústica

            vertente musical originada da fusão entre a Música Concreta francesa e a Música Eletrônica alemã durante os anos de 1950, é baseada na criação a partir de sons gravados e posteriormente transformados – atualmente por meio dos computadores e com o apoio das tecnologias digitais – e/ou por sons sintetizados. Tem o alto falante como item essencial, podendo, como é o caso da “música acusmática” (uma das vertentes desse tipo de música) ser executada sem a participação de nenhum intérprete no palco, como na tradição da música “acústica” (não-eletroacústica, realizada com os instrumentos tradicionais). O compositor desse tipo de música consegue trabalhar com sons totalmente inauditos em relação à prática tradicional, já que o trabalho em estúdio (utilização de softwares de transformação para captação, síntese, transformação e edição de sons) permite que ele se transforme num “moldador”/”escultor” de sons.


Anton Webern

            compositor austríaco (1883-1945) que, junto com Alban Berg e seu professor Arnold Schoenberg, forma a chamada Segunda Escola de Viena. Webern é, dentre os três, o que mais sistematicamente aplica a técnica dodecafônica desenvolvida por Schoenberg para trabalhar com o atonalismo. Embora seu estilo em grande parte seja influenciado por seu professor, Anton Webern cria uma maneira de compor autêntica, com seu rigor no uso das séries e com características mais claramente perceptíveis à escuta que seu emprego da melodia de timbres e de densidades rarefeitas nos materiais sonoros nos permitem apreciar. Após sua morte, a geração de serialistas dos pós-guerra o tomará como baluarte de uma nova era da música no ocidente.


Música conceitual

            refere-se ao termo mais amplo Arte Conceitual, um movimento de vanguarda artística surgido nos anos de 1960 na Europa e nos EUA. Os adeptos desse movimento defendem que a base da arte se encontra nos conceitos e, portanto, na linguagem. O mais importante são as idéias que estão por trás da criação artística, sua execução/realização são secundárias, talvez nem mesmo necessárias. Entre os adeptos desse movimento estão Sol LeWitt e o grupo Fluxus, entre outros. A música de John Cage, especialmente 4’33”, pertence à esse universo. Viam os ready-mades de Marcel Duchamp como um antecessor de suas idéias.


Comentários