Paisagismo

Por Aline Melo

Você sabia que o Brasil é o segundo país do mundo com a maior diversidade de plantas carnívoras, perdendo apenas para a Austrália? O completo desconhecimento da população sobre o assunto representa um risco para a sobrevivência dessas espécies, ameaçadas pela crescente urbanização.

Para entendermos as plantas carnívoras é necessário, antes de tudo, compreender o habitat onde estão inseridas. Elas costumam se desenvolver em ambientes com um solo pobre em nutrientes, encharcado e majoritariamente ácido. Essas condições adversas e escassas exigem diferentes estratégias e armadilhas para a sua nutrição.

“Para uma planta ser considerada carnívora, ela precisa cumprir três requisitos: atrair, capturar e digerir sua presa. As diversas formas de atração e captura se evidenciam ao observar a beleza estonteante delas. Para digestão, recorrem a enzimas secretadas pelas células presentes nas armadilhas, que atuam em conjunto da microbiota”, explica o pesquisador Arthur Jobim, curador da coleção de plantas carnívoras e da restinga do Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico no Rio de Janeiro.

As plantas carnívoras se desenvolvem em ambientes de escassez de nutrientes — Foto: Graham Hunt / Flickr / Creative Commons
As plantas carnívoras se desenvolvem em ambientes de escassez de nutrientes — Foto: Graham Hunt / Flickr / Creative Commons

Como na maioria das plantas, a fotossíntese é o processo básico usado por essas espécies para produzir açúcar e, consequentemente, energia. Contudo, a digestão dos animais capturados é fundamental para o seu aporte de nutrientes.

Com o crescimento das cidades, desmatamentos e, até mesmo, o pisoteamento, essas plantas estão perdendo seu habitat e muitas espécies se encontram em estado crítico de conservação, como a Drosera magnífica no leste de Minas Gerais, ameaçada pelo cultivo de eucalipto na região.

“O Brasil se destaca como o segundo país com maior diversidade de plantas carnívoras. Dessa forma, recai sobre nós a grande responsabilidade a respeito da preservação destas plantas tão únicas, com tanto valor ornamental, educacional e que chegaram a ser consideradas por Darwin como uma prova viva da teoria da evolução”, afirma Arthur.

Espécies de plantas carnívoras

Até 2020, cerca de 860 espécies puras de plantas carnívoras haviam sido identificadas. Além delas, há uma série de híbridos naturais ou cultivados. No Brasil, atualmente, contamos com 84 espécies de Lentibulariaceae, sendo 28 endêmicas; 32 espécies de Droseraceae, 20 delas endêmicas; 1 espécie de Plantaginaceae; e 5 espécies de Sarraceniaceae.

Abaixo, conheça os principais gêneros de plantas carnívoras do mundo!

1. Dionaea

A Dionaea muscipula é a planta carnívora mais reproduzida em filmes, séries e livros — Foto: Casa e Jardim
A Dionaea muscipula é a planta carnívora mais reproduzida em filmes, séries e livros — Foto: Casa e Jardim

Dionaea ou Dionéia é um gênero de plantas carnívoras com apenas uma espécie, a Dionaea muscipula. Provavelmente, ela corresponde à imagem mais comum de plantas carnívoras no imaginário popular, com sua ameaçadora boca repleta de dentes e movimentos rápidos.

“Quando animais pousam na armadilha, seus pelos sensoriais detectam o movimento do inseto e, rapidamente, enviam um sinal para fechar a armadilha, prendendo-o em uma jaula. O animal tenta escapar, mas, normalmente, morre de exaustão. A armadilha forma uma câmara onde são secretadas enzimas digestivas”, explica Arthur.

Essa espécie costumava ser encontrada em pântanos pobres em nitrogênio, no sudeste dos Estados Unidos. Após a fama, foram retiradas de seu limitado ambiente natural e, agora, encontram-se em risco de extinção. Todavia, após intensa reprodução pelos cultivadores, atualmente, temos essa planta presente em cultivos ao redor do mundo.

2. Nepenthes

As espécies do gênero Nepenthes possuem prolongamentos das folhas que se assemelham a jarros — Foto: Freepik / Creative Commons
As espécies do gênero Nepenthes possuem prolongamentos das folhas que se assemelham a jarros — Foto: Freepik / Creative Commons

As Nepenthes são as maiores plantas carnívoras existentes e nativas do outro lado do mundo, em locais como Indonésia, Filipinas, Malásia, Madagascar e Austrália. Suas folhas possuem uma continuação modificada em formato de jarro, que atua como uma armadilha, chamada ascídio.

“A armadilha consegue atrair suas presas por sua coloração estonteante e pelas glândulas de néctar presente na tampa do ascídio. Lá dentro, o animal fica preso nas paredes cerosas e no líquido viscoso presente ali dentro, que já possui enzimas digestivas”, conta o pesquisador. Além de insetos, algumas espécies são capazes de capturar pequenos roedores, como a Nepenthes attenboroughii.

3. Drosera

A Drosera capensis é uma das ervas pertencentes a esse gênero de plantas carnívoras — Foto: Wikimedia / Creative Commons
A Drosera capensis é uma das ervas pertencentes a esse gênero de plantas carnívoras — Foto: Wikimedia / Creative Commons

Em seu trabalho Insectivorous Plants, Charles Darwin demonstrou um interesse particular nas Droseras. São mais de 240 espécies espalhadas por todo o mundo, trinta delas presentes no Brasil. Trata-se de ervas terrestres, cujas lâminas foliares são modificadas em armadilhas, que podemos popularmente chamar de tentáculos.

“Esses tentáculos têm glândulas especializadas na secreção de uma substância viscosa, chamada mucilagem, que sob o sol forte adquire uma coloração avermelhada e atraente. Após atraído, quanto mais o inseto se move para escapar, mais a planta enrola seus tentáculos sobre ele, digerindo-o”, afirma Arthur.

4. Utricularias

Muitas espécies de Utricularias são usadas em aquários por seu comportamento aquático — Foto: Stephen Clancy / Flickr / Creative Commons
Muitas espécies de Utricularias são usadas em aquários por seu comportamento aquático — Foto: Stephen Clancy / Flickr / Creative Commons

Utricularias são plantas carnívoras cosmopolitas. Elas dependem da água para capturar suas presas, muitas vezes, ganhando o comportamento de espécie aquática. Seu nome Utriculária se dá graças a sua armadilha, chamada utrículo, existente em suas raízes. Suas principais presas são bactérias, protozoários e pequenos crustáceos.

“Essa armadilha é um compartimento de 1 a 5 milímetros, conectada ao ambiente úmido com uma válvula e cerdas projetadas para fora. Suas presas são atraídas a nadar perto de suas armadilhas por numerosos pelos ramificados. Quando sua presa passa pelas cerdas, a válvula se abre e o compartimento e enche de água, levando consigo o animal que acionou a cerda”, explica o pesquisador.

Como cultivar plantas carnívoras em casa?

O musgo é muito indicado para o cultivo de plantas carnívoras por ser um substrato úmido e pobre em nutrientes — Foto: Andy D / Flickr / Creative Commons
O musgo é muito indicado para o cultivo de plantas carnívoras por ser um substrato úmido e pobre em nutrientes — Foto: Andy D / Flickr / Creative Commons

Pode parecer estranho, mas o cultivo de plantas carnívoras é um hobby que cresceu muito nos últimos anos. Os cuidados dependem muito do gênero a ser cultivado. Dioneias necessitam de uma forte incidência solar, com luz direta, enquanto Nepenthes podem ser cultivadas apenas com claridade.

“Mas algo é certo: como todas essas plantas evoluíram em ambientes pobres em nutrientes e majoritariamente úmidos, todas as carnívoras podem ser cultivadas em um substrato que tenha essas características. No Jardim Botânico do Rio de Janeiro, por exemplo, utilizamos um substrato composto de musgo (poucos nutrientes e úmido), areia para equilibrar a acidez, e perlita para aerar esse substrato”, conta Arthur.

A maioria das plantas carnívoras sequer representam um risco para pets e crianças. “Apesar do nome, poucas espécies do gênero Nepenthes são capazes de capturar e digerir animais. Mesmo nesses casos, trata-se de pequenos mamíferos, como ratos ou anfíbios. Alguns autores até se referem a elas como plantas insetívoras, ao invés de carnívoras”, completa.

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