Terra da Gente

Por Giovanna Adelle, Terra da Gente


Dionaea muscipula, planta mais comum em cultivo — Foto: Bruno Henrique Garcia

Desde os 12 anos, Bruno Henrique Garcia gosta de plantas carnívoras. Era uma criança bióloga, como ele mesmo diz, e o amor pela natureza se mostrava em momentos como quando trazia algum bicho para casa, para desespero da mãe, Patrícia Karina Garcia.

"Naquela época, era bem entusiasta assim mesmo. Ter as plantas por gostar, por curiosidade. Eu sempre pegava bicho e levava para casa, minha mãe 'queria morrer',' levava escorpião, levava aranha. Em determinado momento, eu comecei a gostar de planta", explica.

Aos 28 anos, o biólogo nascido e criado em Sertãozinho (SP) tem uma loja virtual com cerca de 50 espécies de plantas carnívoras, de pelo menos nove gêneros distintos. Em casa, onde guarda sua coleção pessoal, ele acredita possuir aproximadamente 1 mil vasos.

Bruno Henrique Garcia é biólogo e possui uma loja virtual de plantas carnívoras — Foto: Arquivo pessoal

Com vendas que variam entre 200 a 300 pedidos mensais, Bruno encontrou um jeito prazeroso de unir trabalho e hobby. Para quem deseja se aventurar no cuidado de plantas carnívoras, ele dá algumas orientações gerais:

  • A planta carnívora não é uma planta normal, então não é bom plantá-la em terra vegetal. Por viver em substratos pobres na natureza, ela tende a morrer em solos muito adubados;
  • No geral, todas precisam de uma boa quantidade de luz, pois não são plantas de sombra. Pelo menos quatro horas por dia de sol direto;
  • Substrato sempre úmido, pois são plantas que gostam de água. Algumas devem ficar sempre com água por baixo do pratinho e outras devem ser regadas diariamente ou dia sim, dia não;
  • Não precisa dar insetos para a planta! Ela é capaz de capturá-los sozinha. Se quiser alimentá-la com eles, fique atento ao tipo de presa da espécie. Algumas não suportam insetos grandes.

Devido a formação em Biologia, ele orienta os clientes acerca dos cuidados para cada tipo de planta, que podem ser separados de acordo com o gênero dela. Veja abaixo:

Gêneros mais comuns de plantas carnívoras

Cephalotus

Com apenas a espécie Cephalotus follicularis, o gênero Cephalotus é nativo de uma região do sudoeste australiano, onde cresce em áreas costeiras e constantemente alagadas. Sua armadilha, que nada mais são do que folhas modificadas, é do tipo "jarro".

Cephalotus follicularis — Foto: Em Lamond / iNaturalist

  • Pode ser cultivada sob luz solar indireta, e dessa forma, as plantas crescerão maiores, porém com jarros esverdeados;
  • Sob luz solar direta, os jarros ficam menores, mas obtêm uma bela coloração avermelhada;
  • Mantenha alto o teor de umidade (se não tiverem umidade suficiente, as "tampas" dos "jarros" fecharão, na tentativa de manter o líquido em seu interior);
  • Não deixe os vasos sobre pratos cheios de água, pois as raízes podem apodrecer;
  • Seu crescimento é lento e deve ser plantado em vasos grandes, pois os rizomas crescerão mais, possibilitando a propagação por divisão.

Dionaea

Como o gênero anterior, este também só possui uma espécie catalogada: a Dionaea muscipula. Nativa de pântanos da planície costeira dos Estados Unidos, é considerada uma das plantas carnívoras mais cultivadas do mundo e tem armadilha do tipo "jaula".

Uma curiosidade é que a espécie entra em dormência nos meses mais frios do ano, quando há diminuição do fotoperíodo e queda da temperatura. Nesse período, as novas folhas ficam bastante reduzidas em tamanho e o crescimento pode parar por completo.

Vênus papa-moscas (Dionaea muscipula) — Foto: alexxxan / iNaturalist

  • Quanto mais luz receber, mais saudável e avermelhada a planta será;
  • O solo deve ser mantido constantemente úmido, mas não deve ficar encharcado pois pode causar o apodrecimento das raízes e do rizoma;
  • Cuidado para não descartar o vasinho no período de dormência achando que a planta morreu! Ela só está descansando e, na primavera, voltará a crescer;
  • É recomendado cortar a haste floral antes que ela se desenvolva, pois drena muita energia da planta, enfraquecendo-a e podendo até levar a muda à morte.

Drosera

O gênero Drosera tem mais de 200 espécies e é um dos mais diversos, podendo ser encontrada em todos os continentes - com exceção da Antártica. Nesta diversidade, há subgrupos: droseras pigméias, complexo petiolaris, tuberosas, de clima temperado, clima tropical e entre outros.

Possuem armadilhas do tipo "adesiva", nas quais as folhas são cobertas de tentáculos secretores de mucilagem. O inseto, ao ser atraído pelo odor doce ou pelo efeito visual da mucilagem, fica preso e acaba sendo digerido.

Orvalhinha (Drosera intermedia) — Foto: Michael Werner / iNaturalist

  • Nem todas as espécies apreciam as mesmas condições de cultivo, porém, as mais comuns como D. intermedia ou D. burmannii tem cultivos simples;
  • Elas apreciam sol da manhã ou até mesmo o dia todo e substrato sempre úmido;
  • Um fator muito importante é proteger, o máximo possível, a planta de ventos fortes e constantes, pois poderão atrapalhar seu crescimento.

Genlisea

Considerado incomum e um pouco semelhante ao genêro Utricularia, este grupo possui 30 espécies catalogadas e suas plantas podem ser terrestres ou aquáticas.

As armadilhas são subterrâneas ou submersas e as folhas crescem rente ao solo, normalmente em roseta. Geralmente, não há raízes verdadeiras. Suas flores, que podem variar em tons de branco, amarelo, lilás e roxo escuro.

Genlisea hispidula — Foto: graham_g / iNaturalist

  • Tente começar por espécies mais fáceis como a G. hispidula, que tolera sol direto, substrato encharcado e não possui tanta exigência com umidade alta;
  • Outras espécies podem ser um desafio para cultivar, pois são plantas frágeis e com habitats peculiares, nem sempre sendo possível reproduzi-los em cultivo.

Heliamphora

Pequeno gênero de plantas carnívoras nativo dos tepuís - montanhas de topo plano - da América Latina. Este grupo se assemelha ao gênero Sarracenias.

Entre as diferenças, está a ausência de uma tampa que proteja a planta da entrada de água da chuva no "jarro". Isso porque a própria estrutura da armadilha é adaptada para escoar o excesso de água.

Heliamphora nutans — Foto: Cordenos Thierry / iNaturalist

  • Plantas de cultivo difícil já que necessitam de sol direto, embora não suportem calor ou frio extremos;
  • Umidade deve ser sempre mantida alta, caso queira cultivar esse gênero;
  • Prefira começar com espécies como H. minor ou o híbrido H. heterodoxa x minor, pois são mais fáceis de cultivar.

Nepenthes

Gênero muito comum em cultivo, possui mais de 150 espécies catalogadas e centenas de híbridos naturais ou artificiais.

A armadilha em forma de "jarro", se abre e possui líquido digestivo com enzimas capazes de digerir insetos ou detritos. Algumas espécies são consideradas parcialmente detritívoras, pois em seu cardápio estão fezes e excrementos de animais.

Nepenthes graciliflora, planta comum em cultivo no Brasil — Foto: Bruno Henrique Garcia

  • Apreciam luz solar direta da manhã ou o dia todo filtrado por um sombrite, não são plantas de sombra! Cultivar na ausência de luz fará com que a planta deixe de produzir os jarros;
  • Outro fator importante é a umidade do ar, que deve ser mantida acima dos 60%;
  • Espécies como N. graciliflora ou N. maxima são fáceis de se cultivar e indicadas para iniciantes.

Pinguicula

Com distribuição mundial, este gênero possui mais de 70 espécies diferentes. As espécies de clima temperado entram em dormência no inverno, através de um hibernáculo, enquanto espécies mexicanas produzem folhas mais carnudas como adaptação ao estresse hídrico da estação.

As flores são extremamente coloridas e diversas, sendo um atrativo ornamental aos cultivadores de plantas carnívoras. O grupo possui um sistema de armadilhas bem parecido com o das Droseras.

Pinguicula esseriana ainda sem flores — Foto: Alejandro Huereca Delgado / iNaturalist

  • Prefira começar com espécies mexicanas como a P. gigantea, P. esseriana ou o híbrido P. x "Aphrodite" , pois são de fácil cultivo e apreciam boa iluminação, porém não sol direto;
  • Se possível, mantenha em meia sombra ou com sol filtrado através de sombrite;
  • Apreciam substratos mais minerais e não tão encharcados. Afogar sua planta pode resultar no apodrecimento das raízes, prefira cultivar sem pratinho de água por baixo e regando algumas vezes na semana.

Sarracenia

Originárias da América do Norte, são encontradas em pântanos, sobre água corrente. No inverno, a planta entrará em dormência e as folhas poderão secar e morrer. Algumas espécies formam folhas especiais no inverno, que não são carnívoras e possuem apenas função fotossintética.

A armadilha se parece com um tubo, onde os insetos, atraídos pelo néctar secretado na entrada do tubo, entram e não consegue escalar de volta pela presença de cerdas no sentido contrário à entrada.

Sarracenia jonesii — Foto: Moses Michelsohn / iNaturalist

  • Gênero considerado de cultivo fácil, adaptaram-se bastante bem ao clima brasileiro. Os híbridos tem cultivo ainda mais fácil;
  • Forneça luz solar direta, o dia inteiro. Menos luz fará com que as folhas fiquem fracas, pendentes e esticadas;
  • Mantenha um prato cheio de água embaixo do vaso todos os dias, exceto no inverno, quando é necessário que o prato fique seco por alguns dias antes de ser enchido novamente;
  • Plantas deste gênero não são muito exigentes quanto à umidade do ar. Temperaturas baixas também não representam problema, sendo elas capazes de suportar até mesmo geadas;
  • Não tente protegê-las de temperaturas baixas, já que a dormência é necessária.

Utricularia

Gênero mais diverso de plantas carnívoras, o Utricularia inclui 230 espécies espalhadas pelo mundo. Podem ser terrestres, aquáticas ou ainda epífitas.

Suas armadilhas, pequenas bolsas chamadas de utrículos, aprisionam e digerem micro-organismos presentes do substrato. Dessa forma, a beleza do gênero não está nas armadilhas e sim nas flores que variam muito em formas, tamanhos e cores.

Utricularia sandersonii — Foto: graham_g / iNaturalist

  • Dada a grande diversidade, cada espécie possui sua peculiaridade em cultivo;
  • No geral as espécies U. sandersonii, U. graminifolia, U. longifolia e entre outras terrestres são comuns em cultivo e indicadas para iniciantes;
  • Substrato sempre úmido ou encharcado, sob luz da manhã ou o dia todo usando tela sombrite;
  • Utricularias aquáticas são de difícil cultivo, apenas U. gibba possui um cultivo relativamente fácil e pode ser mantida nas bandejas de vasos;
  • Utricularias epífitas são de cultivo mais complexo, devem ser mantidas em alta umidade e no inverno entram em dormência, logo deve ocorrer um controle de regas. A espécie epífita de cultivo mais fácil é a U. alpina.

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