Produção siderúrgica nacional cai 2,8% no primeiro semestre

Com retração nas vendas internas, o Instituto Aço Brasil deve revisar para baixo as projeções para 2022

22 de julho de 2022 às 0h30

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Em relação a agosto houve queda de 3,4% / Crédito: Divulgação

O Instituto Aço Brasil deve revisar para baixo as projeções da siderurgia brasileira para 2022. É que tanto a produção quanto as vendas deverão ficar aquém dos resultados alcançados em 2021. Os indicadores já apontaram queda no decorrer do primeiro semestre em relação à mesma época do ano passado. Por outro lado, indicaram crescimento na comparação com 2020 e 2019. Diante do contexto, representantes do setor avaliam o ano como positivo.

“Qualquer que seja a revisão, avaliamos que o resultado de 2022 seguirá como um dos melhores da última década para a siderurgia brasileira. Não há nenhuma sinalização neste momento que indique que estejamos indo para um lugar ruim que impacte o desempenho. O processo que estamos vendo é cíclico e decorrente de uma base forte de comparação. Tivemos um primeiro semestre muito positivo e os três setores que representam mais de 80% do nosso consumo aparente (construção civil, máquina e equipamentos e automotivo) vão muito bem”, destaca o presidente-executivo da entidade, Marco Polo de Mello Lopes.

Segundo a entidade, em números absolutos, a produção de aço bruto somou 17,4 milhões de toneladas na primeira metade de 2022. Frente ao mesmo período do ano passado, indica queda de 2,8%, mas na comparação com 2020, aumento de 19,6%, e com 2019, de 0,6%. Da mesma maneira, as vendas internas somaram 10,2 milhões de toneladas nos últimos seis meses, mostrando baixa de 14,6% em relação à primeira metade de 2021 e altas de 22% e 10,5% sobre 2020 e 2019, respectivamente.

O consumo aparente chegou a 11,7 milhões de toneladas de janeiro a junho deste ano. Isso representa baixa de 15,6% sobre os primeiros seis meses do exercício passado, quando foram consumidos 13,9 milhões de toneladas. E aumentos de 25% e 13,1% em relação a 2020 e 2019.

“O ano de 2021 foi espetacular; a siderurgia brasileira apurou o segundo melhor resultado da década. Então, tudo que se compara com esse período, cuja base é forte, torna-se inferior. Mas quando olhamos para os dois exercícios anteriores, percebemos a evolução do desempenho. É o chamado efeito estatístico, que, na minha percepção, provavelmente vai levar o setor a um resultado menor em 2022. De toda maneira, não considero uma perspectiva negativa, pois mesmo com queda, ainda assim será o quarto melhor resultado dos últimos dez anos”, avalia.

Em fevereiro, a entidade traçou expectativas de crescimento de 2,2% na produção (36,8 milhões de toneladas) e de 2,5% nas vendas internas (22,8 milhões de toneladas) em 2022. Para as exportações ainda é esperado avanço de 1,5%, para as importações de 12% e para o consumo aparente de 1,5%. Caso confirmada a expectativa, este último chegaria a 26,7 milhões de toneladas neste exercício.

Utilização da capacidade da siderurgia

Diante do cenário, segundo o executivo, não falta oferta de produtos, mas carência de demanda no mercado nacional. Conforme o Instituto Aço Brasil, a siderurgia brasileira registrou 68,4% de utilização da capacidade instalada em junho. O ideal, conforme ele, seria um grau de operação acima de 80%.

Atualmente, o parque siderúrgico do País é composto por 31 usinas e a capacidade instalada do setor é de 51 milhões de toneladas de aço bruto ao ano. 

Os investimentos previstos pelo setor são robustos. Entre 2022 e 2026, o segmento prevê investimentos na ordem de R$ 52,5 bilhões no Brasil. Conforme Lopes, a maior parte deverá ser aplicada em tecnologia para melhoria do mix de produtos e em projetos ambientais. O aumento da capacidade não estaria no foco, justamente pelo nível de ociosidade que as siderúrgicas ainda apresentam.

Efeitos da retirada do antidumping para siderurgia

A respeito da decisão da Comissão do Comércio Internacional dos Estados Unidos de retirar as tarifas de importação sobre o aço laminado a frio do Brasil, o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil explica que a medida é positiva, porém, seu efeito será limitado. Isso porque a extinção da medida antidumping não afeta as cotas de 30% do volume de vendas de produtos siderúrgicos acabados brasileiros.

“As vendas de acabados teve o redutor de 30% estipulado com base em uma média dos volumes vendidos entre 2015 e 2017. O que a gente vem fazendo com o governo americano é renegociar estas determinações. Não faz sentido o semiacabado dentro deste acordo e precisamos melhorar essa cota do acabado”, diz. Com a retirada das tarifas dos laminados a frio, permanecem taxados os laminados a quente e as chapas grossas enviadas para aquele país.

Retirada de sobretaxa representa boa oportunidade

A decisão da Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos de revogar as tarifas de importação contra o aço laminado a frio procedente do Brasil deverá ter um impacto marginal para a siderurgia brasileira. É que, embora quase 50% das exportações de aço sejam destinadas àquele País, o forte está nos produtos semiacabados. Os laminados ainda representam pequena fatia deste mercado.

Por outro lado, a retirada da sobretaxa dos produtos brasileiros representa uma boa oportunidade para aumentar essa participação, já que os laminados possuem maior valor agregado. A indústria de siderurgia nacional, incluindo a mineira, poderá se beneficiar deste movimento. A avaliação é de especialistas, que alertam, no entanto, para a elevação dos juros nos Estados Unidos e a consequente redução do consumo, o que poderá frustrar as expectativas acerca da demanda por insumos de infraestrutura. 

Em uma avaliação quinquenal, a comissão também decidiu por manter as tarifas antidumping sobre esse tipo de aço importado de China, Índia, Japão, Coreia do Sul e Reino Unido. As sobretaxas sobre os laminados a frio brasileiros foram impostas em setembro de 2016. Apenas em 2015, o Brasil havia exportado US$ 285 milhões em chapas de aço laminado a frio. CSN e Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas) eram as maiores exportadoras brasileiras do produto à época.

Impacto na siderurgia brasileira não deverá ser expressivo

O diretor-presidente da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, avalia que, diante do perfil de exportação das siderúrgicas brasileiras, o impacto não será tão expressivo. Mas aponta a oportunidade que se desponta para o setor. Ainda conforme ele, as medidas de antidumping foram impostas à siderurgia num contexto de protecionismo e de negociações mais acirradas com a China, especialmente.

“Hoje, o Joe Biden está com preocupações voltadas para a política econômica interna, diante dos recordes de inflação. O aumento de juros é contracionista, então o governo busca outras formas de  segurar o aumento dos preços. Compensar excesso de demanda por meio das importações e de redução de tarifas pode ser um caminho, que para o setor de aço dos Estados Unidos é ruim, mas para os demais que dependem do metal, não. O Biden, em encontro com o presidente Jair Bolsonaro (PL) em junho, já tinha comentado sobre a possibilidade de avaliar a redução dessas tarifas”, detalha.

De maneira complementar, o analista de Negócios Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Alexandre Brito, explica que a conclusão da comissão vai ao encontro da ideia de que a importação dos produtos brasileiros não causaria mais danos à indústria americana. Ao passo que as compras dos demais, sim. Ele lembra que de cinco integrantes da comissão a votação pela retirada da medida antidumping do Brasil ficou em 3 a 2.

Brito recorda que, quando foi imposta, em 2016, a sobretaxa tornou o aço brasileiro menos competitivo naquele mercado. Com a suspensão, o laminado volta a ter espaço – ainda que em meio a uma política de economia recessiva vivida pelo país. 

“Com os recordes de inflação nos Estados Unidos, pode ser que a retirada das taxas do aço brasileiro não proporcione tantos ganhos quanto esperamos. De toda maneira, não deixa de ser uma boa notícia que trará impactos positivos à siderurgia nacional. E também aos setores de produtos e serviços que compõem a cadeia, como o do minério de ferro”, diz.

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